Belladonna é o segundo volume publicado por Anne Bishop cuja acção ocorre no universo da estilhaçada Efémera, mundo dividido por diferentes paisagens ligadas por pontes que levam quem as atravessa não ao local de destino pretendido, mas à paisagem que o seu coração realemente deseja atingir.

Neste segundo volume, a personagem central é a carismática Glorianna Belladonna, Paisagista e Guia do Coração que tem como missão destruir o Ente denominado Devorador do Mundo detendo a total Escuridão em que o mesmo pretende mergulhar todas as paisagens.

Uma vez lida qualquer obra de Anne Bishop, destacam-se de imediato dois pontos que tornam a sua escrita extremamente forte. Por um lado temos o pano de fundo dos acontecimentos e todo o enquadramento dos seus romances, que nos colocam em Mundos incrivelmente imaginativos e complexos e nos prendem de imediato tanto na tentativa de compreensão dos mesmos como na narrativa desenvolvida a partir destes. Por outro lado, são as personagens que mais marcam o leitor, pela sua personalidade e caracterização, que lhes confere um realismo muito poucas vezes visto. O mistério das mesmas, combinado com a dose certa de comédia e "maldade", introduzindo-as num jogo onde ninguém é totalmente bom ou mau e nem tudo é o que parece.

De facto, a narrativa é totalmente marcada por estas dualidades que se completam: Bem/Mal, Luz/Escuridão, Certo/Errado, sendo a conclusão, em última análise, não a vitória de uma facção sobre a outra, mas sim o equilíbrio entre as variáveis.

Note-se que apesar da linguagem simples, é necessária uma leitura atenta do livro, de modo a entender todo o enquadramento e implicações de cada diálogo na mesma. Aqui, muita da história é contada através das expressões em suspenso, do que não é dito em voz alta, quer por narrador quer por personagens, o que, por um lado permite ao leitor uma maior flexibilidade imaginativa e criando, por outro, uma certa confusão na própria narrativa.

Em comparação com "Sebastian", anterior volume publicado, "Belladonna" revela-se menos surpreendente e interessante. Confesso que esperava mais da personagem principal, uma vez que em "Sebastian" esta é apresentada de um modo bastante mais "sombrio" que a torna do meu ponto de vista muito mais original e curiosa. Já em "Belladonna", esta é convertida numa mulher que apesar de forte ilustra com regularidade os seus pensamentos de menina, o que transforma um pouco o seu mistério em desinteresse. A narrativa, apesar de fluída, acaba por sofrer pela letargia da própria Glorianna, tormando regularmente a acção um ritmo demasiado baixo.

Assim, o balanço que faço, apesar de ter preferido claramente "Sebastian", é extremamente positivo. "Belladonna" é um excelente livro e um bom representante da escrita de Anne Bishop.