Opinião literária: "O Rei do Inverno" de Bernard Cornwell
06:54"Estas são as histórias dos dias que antecedem a descida das grandes trevas. Estas são as histórias das Terras Perdidas, do país que outrora foi nosso, mas ao qual os nossos inimigos chamam agora Inglaterra. Estas são as histórias de Artur, o Senhor da Guerra, o Rei que Nunca Existiu, o Inimigo de Deus e, que o Cristo Vivo me perdoe, o melhor homem que jamais conheci."
Críticas de Imprensa:
"Cenas de batalhas grandiosas e intriga política brilhante norteadas por personagens lendárias com característica muito humanas." Kirkus Reviews
Opinião literária:
Sabem aqueles livros que nos chamam na prateleira das livrarias? Aqueles livros em que pegamos vezes sem conta, pensando se valerá a pena comprar, que criam em nós uma ânsia de leitura mesmo antes de virar a primeira página? Para mim "O Rei do Inverno" foi um desses livros.
Sabia sobre ele e por princípio uma série de coisas. Sabia que era o primeiro de uma trilogia denominada "Crónicas do Senhor da Guerra", sabia que tinha bastantes folhas e estava escrito com letras relativamente pequenas. Mais importante que tudo, sabia que se tratava de uma recriação das lendas arturianas e talvez viesse daí a minha atracção natural pelo livro.
Não esperava, no entanto, a narrativa que encontrei, o que não pode ser considerado um ponto negativo.
"O Rei no Inverno" é - se tentarmos definir o livro numa palavra simples - um romance cru. Desengane-se quem vier à procura de versões romantizadas, de príncipes guerreiros e princesas encantadas, encantamentos maravilhosos e cenas de levar às lágrimas. Bernard Cornwell escreve sobre a história de Artur com um realismo impressionante, sem poupar o leitor da crueldade e violência características da época mas que a esmagadora maioria dos outros autores optam por deixar de lado. Poder-se-ia no entanto pensar que tal facto tomaria completamente conta da narrativa, deixando pouco espaço para a abstracção do leitor, mas tal não acontece. Essa narrativa crua e forte mantem-se, de facto, durante todo o livro, mas é possível ao leitor habituar-se a até abstrair-se da mesma, enquanto Cornwell nos conduz com mestria pelas aventuras do guerreiro Derfel, criado no Tor, amigo pessoal de Artur e monge católico na fase final da sua vida. De facto, trata-se mais de um livro sobre a visão de Derfel sobre Artur e os acontecimentos ocorridos na Bretanha do que própri a e unicamente uma narração da vida de Artur. E isto não tira interesse ao Romance. Pelo contrário, Derfel revela-se uma personagem principal interessantíssima na sua lealdade e coragem, sem nunca perder a pitada de irreverência de que são feitos os bons protagonistas.
Apesar de se revelar, de facto, uma história fascinante, não se deve esquecer, no entanto, que se trata de um livro com uma quantidade generosa de factos históricos (mesmo que fictícios), o que poderá, sem dúvida, tornar a leitura mais demorada e até cansativa a determinada altura. Aconselho vivamente ao leitor que se vir em apuros que não faça como eu (por alguma razão que ainda não identifiquei com clareza apenas me lembro que os mapas existem quando acabo a leitura) e consulte o mapa e o guia de personagens existentes no início do livro. Seja como for, não deverá ser dado demasiado valor a este aspecto, uma vez que, com ou sem consulta, a determinada altura torna-se bastante mais fácil o reconhecimento tanto dos reis e respectivos territórios.
Trata-se assim, portanto, de um livro denso e de leitura nem sempre fácil, mas com uma visão original e uma narrativa que com o tempo se torna apaixonante, principalmente para os amantes da descrição de batalhas, arte que é sem dúvida dominada pelo autor.
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